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Argentina discute incluir criptomoedas no sistema bancário tradicional

A Argentina está prestes a dar um dos passos mais importantes de sua história recente no mercado cripto. O Banco Central (BCRA) analisa um novo regulamento que permitirá que bancos ofereçam serviços relacionados a criptomoedas.

A medida representa uma virada em relação à proibição imposta em 2022 e abre caminho para uma integração inédita entre o sistema financeiro tradicional e os ativos digitais.

Uma reviravolta após anos de restrições

A decisão surge após um período marcado por forte resistência das autoridades financeiras. Em 2022, o BCRA proibiu bancos de permitir que clientes comprassem ou vendessem criptomoedas por meio de suas próprias plataformas, citando riscos operacionais e possíveis impactos no sistema financeiro. A medida interrompeu iniciativas de instituições que já começavam a explorar o setor, obrigando usuários a recorrerem exclusivamente a exchanges independentes.

Agora, mais de três anos depois, a postura muda de forma significativa. O Banco Central prepara um arcabouço regulatório que deve entrar em vigor em 2026. Essa nova base legal vai autorizar operações de compra, venda, custódia e outros serviços cripto, desde que as instituições sigam normas rígidas de compliance e segurança operacional.

O novo ambiente regulatório e o papel da CNV

A mudança não acontece isoladamente. Ela é resultado da consolidação de uma regulamentação mais ampla sobre empresas de ativos virtuais, iniciada em 2024 com a Ley 27.739. Essa legislação transferiu competências para a Comisión Nacional de Valores (CNV), estabelecendo requisitos de registro, auditoria, governança e medidas contra lavagem de dinheiro. Com esse ambiente mais estruturado, o governo argentino considera que o setor está pronto para avançar rumo à integração com o sistema bancário tradicional.

A supervisão da CNV e as regras de prevenção à lavagem de dinheiro impostas pela UIF criam um cenário em que bancos podem operar criptomoedas com maior segurança jurídica. O Banco Central entende que, ao trazer as operações cripto para dentro do sistema formal, reduz riscos, melhora a rastreabilidade e aumenta a proteção ao consumidor.

Por que a Argentina decidiu mudar agora

A motivação para essa mudança também está ligada ao contexto econômico do país. O histórico de inflação elevada e controles cambiais rígidos fez com que muitos argentinos adotassem criptomoedas como forma de proteger seu patrimônio. Mesmo diante da proibição aos bancos, o uso de stablecoins e do Bitcoin cresceu de forma acelerada entre 2023 e 2025.

Ao permitir que bancos operem criptomoedas, o governo busca oferecer um ambiente mais seguro para atividades que já acontecem de maneira massiva de forma informal. O objetivo é diminuir a dependência de plataformas estrangeiras, ampliar a proteção ao usuário e garantir que a movimentação financeira ocorra em canais regulados.

O que os bancos poderão oferecer ao público

Embora a versão final do regulamento ainda não tenha sido publicada, de acordo com informações divulgadas pela imprensa internacional, os bancos deverão oferecer serviços como compra e venda de criptomoedas, custódia e suporte a operações de trading. Esses serviços serão submetidos a requisitos de liquidez, segurança cibernética e segregação de ativos, além de políticas de identificação de clientes e monitoramento de transações.

A expectativa é que apenas criptomoedas de maior liquidez e reconhecimento global sejam liberadas na primeira etapa. Bitcoin, Ethereum e stablecoins lastreadas em dólar, como USDT e USDC, são os ativos mais cotados para compor a lista inicial.

Impactos esperados na economia e no mercado cripto

A integração entre bancos e cripto deve gerar mudanças profundas no mercado argentino. Para o usuário, a principal consequência será o aumento da segurança, já que passará a contar com instituições tradicionais para acessar ativos digitais. Para os bancos, abre-se uma nova frente de negócios, capaz de atrair públicos jovens e diversificar as fontes de receita em um período de forte transformação financeira.

No plano macroeconômico, especialistas afirmam que a medida pode fortalecer a transparência das operações com cripto e reduzir a circulação de valores em ambientes não regulados. Além disso, o movimento aproxima a Argentina das tendências globais, em que bancos e grandes instituições financeiras incorporam criptomoedas ao seu portfólio de serviços.

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O desfecho que o mercado aguarda

A possibilidade de autorizar bancos a operar criptomoedas representa um potencial marco regulatório para a Argentina. Caso a mudança seja confirmada, o país poderá se posicionar entre os mais avançados da América Latina na integração entre finanças tradicionais e ativos digitais. A proposta também dialoga com a forte demanda de milhões de argentinos que já recorrem às criptomoedas como proteção em meio à instabilidade econômica.

A nova política sinaliza que a Argentina quer deixar para trás a fase de restrições e abrir caminho para um mercado mais seguro, regulado e conectado às tendências internacionais. O impacto pode ser profundo não apenas para os investidores, mas também para o sistema financeiro como um todo.