A Autoridade de Conduta Financeira do Reino Unido recentemente consolidou orientações que permitem que gestoras adotem modelos de fundos tokenizados dentro das regras já existentes.
O movimento reforça o processo de modernização do setor, ao integrar tecnologias distribuídas de forma gradual, aumentar a eficiência operacional e preparar o mercado para uma adoção mais ampla de estruturas digitais.
A tokenização no modelo britânico
A FCA se baseou no “Blueprint” desenvolvido pela Investment Association, que descreve como registros digitais podem ser integrados ao modelo atual de fundos. O regulador não criou novas normas, mas esclareceu que a tokenização é compatível com o arcabouço vigente desde que sejam mantidos requisitos de governança, auditoria e continuidade operacional.
Nesse formato, as unidades dos fundos passam a existir como representações digitais em redes distribuídas, reduzindo reconciliações manuais e tornando os dados mais precisos. A FCA, porém, exige controles robustos, como backups off-chain, auditoria constante e mecanismos capazes de corrigir falhas sem comprometer a integridade dos registros.
Modelos operacionais em evolução: Direct2Fund, eficiência e acesso ampliado
A indústria britânica discute o modelo Direct2Fund como uma forma de permitir que investidores interajam diretamente com os fundos para aplicações e resgates, reduzindo intermediários e simplificando fluxos internos. Embora ainda esteja em fase de consulta e desenvolvimento, a proposta busca se alinhar ao arcabouço regulatório atual, exigindo controles robustos para manter segurança e rastreabilidade.
Paralelamente, a digitalização do registro das unidades pode reduzir etapas redundantes, minimizar erros e melhorar a eficiência operacional. Com margens cada vez mais pressionadas, o setor vê a tokenização como uma estratégia para cortar custos e aumentar competitividade. Além disso, o uso de unidades fracionadas pode ampliar o acesso a produtos sofisticados, permitindo a entrada de investidores com menor capital — um ponto considerado essencial para democratizar o mercado, desde que haja modelos operacionais viáveis e adoção pelas gestoras.
Riscos, governança e desafios para a consolidação da tokenização
Apesar dos benefícios potenciais, a FCA destaca riscos relevantes que precisam ser administrados com rigor. O órgão mantém atenção especial à governança das redes, à confidencialidade dos dados e à capacidade de corrigir falhas sem comprometer a integridade dos registros. Mesmo com a adoção de tecnologias distribuídas, todos os processos devem permanecer auditáveis e alinhados aos controles tradicionais.
A consolidação da tokenização depende de como o setor equilibra inovação e segurança. Modelos como o Direct2Fund só avançam se conseguirem operar dentro de padrões sólidos de supervisão, garantindo transparência, proteção ao investidor e continuidade operacional.
Consulta pública e próximos passos
A consulta aberta pela FCA busca coletar contribuições sobre governança, operacionalização e proteção ao investidor. O órgão pretende entender como gestoras, participantes de mercado e especialistas veem a adoção gradual da tecnologia dentro do ambiente regulado.
As percepções reunidas devem influenciar os próximos ajustes das orientações e ajudar a definir quais modelos poderão avançar para fases mais amplas de testes. Esse processo é essencial para alinhar inovação e segurança, além de orientar como o setor adotará a tecnologia nos próximos anos.
Um movimento observado pelo mercado global
A abordagem britânica, que combina inovação com prudência regulatória, tem atraído a atenção de gestoras internacionais e de outros reguladores que buscam referências para seus próprios mercados. Alguns projetos-piloto continuam em andamento no país, avaliando como modelos híbridos podem trazer benefícios reais sem comprometer requisitos legais e operacionais.
Esses experimentos ajudam a medir o impacto prático da tokenização e reforçam o papel do Reino Unido como um dos centros mais ativos na modernização da infraestrutura financeira.
Avanço consistente, porém gradual
O Reino Unido constrói um caminho sólido para integrar blockchain ao mercado de fundos, porém de maneira incremental. A prioridade da FCA permanece centrada em segurança, governança e eficiência.
A combinação de diretrizes claras e espaço para testes pode colocar o país na vanguarda da modernização da gestão de ativos, desde que cada etapa seja sustentada por evidências técnicas e supervisão contínua.



