A Venezuela vive há anos uma das piores crises econômicas do continente. A hiperinflação corrói o poder de compra da população, que já não encontra no bolívar uma forma confiável de preservar valor.
Em 2025, a inflação acumulada chegou a níveis superiores a 200% ao ano, tornando praticamente impossível planejar despesas básicas ou poupar em moeda local. Nesse cenário, a população passou a buscar alternativas para manter alguma estabilidade financeira. É nesse ponto que as criptomoedas, em especial as stablecoins, ganham espaço como meio de pagamento e reserva de valor no dia a dia dos venezuelanos.
O avanço do USDT como meio de pagamento
Entre todas as opções disponíveis, o Tether (USDT) tornou-se a criptomoeda mais popular no país. Ela passou a ser utilizado em compras de mercado, pagamentos de contas, salários e até em transações de maior porte, como negociações com fornecedores. A preferência pelo USDT se deve ao seu lastro no dólar americano, que garante maior previsibilidade em comparação ao bolívar.
Enquanto as taxas oficiais do Banco Central variam em torno de 151 bolívares por dólar e o mercado paralelo gira em torno de 230 bolívares, o câmbio com USDT costuma ficar em uma média intermediária, mais acessível e estável para a população. Essa confiança transformou a stablecoin em uma espécie de moeda não oficial do país.
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Digitalização financeira em larga escala
O uso de criptomoedas na Venezuela deixou de ser uma prática restrita a investidores ou entusiastas de tecnologia. Atualmente, pequenos comerciantes e prestadores de serviços aceitam pagamentos via carteiras digitais. Esse movimento ganhou força porque a liquidação é instantânea e evita as oscilações violentas do bolívar.
Grandes empresas também passaram a aderir ao processo. Esse avanço mostra que, além de uma alternativa de sobrevivência, a economia digital já se consolidou como parte da infraestrutura comercial do país.
Adoção em escala global e posição da Venezuela
A crescente utilização das criptomoedas fez com que a Venezuela se destacasse no cenário global. De acordo com estudos recentes, o país está entre os dez com maior uso per capita de ativos digitais. O crescimento anual de mais de 100% nas transações em cripto mostra como a população abraçou essa forma de pagamento como alternativa real à moeda nacional.
Outro dado relevante é que quase metade das movimentações abaixo de dez mil dólares são realizadas em stablecoins, confirmando que a prática não está restrita a grandes empresas ou investidores, mas atinge diretamente o consumidor comum.
Desafios e riscos da nova economia digital
Apesar das vantagens, a adoção das criptomoedas na Venezuela não é isenta de riscos. A falta de regulamentação clara gera incertezas, e há sempre a possibilidade de bloqueios ou restrições por parte das plataformas que concentram a maior parte das transações. Outro problema é a dependência da infraestrutura digital.
Em um país onde quedas de energia e instabilidade na internet são comuns, confiar totalmente em meios eletrônicos pode se tornar um desafio. Além disso, o uso crescente de criptomoedas coloca pressão sobre o governo, que perde cada vez mais o controle sobre a política monetária interna.
Um futuro moldado pelas criptomoedas
O que antes parecia uma solução improvisada para driblar a inflação tornou-se parte da realidade econômica da Venezuela. As stablecoins, especialmente o USDT, deixaram de ser vistas apenas como investimento e se consolidaram como meio de pagamento funcional no cotidiano. Embora os riscos existam, a adoção em larga escala mostra a capacidade de adaptação da população diante de crises prolongadas.
Mais do que uma tendência passageira, a experiência venezuelana pode servir de exemplo para outros países que enfrentam instabilidade cambial. Nesse processo, as criptomoedas deixam de ser apenas uma promessa de futuro e se tornam, de fato, a base de sobrevivência financeira para milhões de pessoas.